CICLO DA REPETIÇÃO

Muitos de nós já presenciamos ou ouvimos falar de pessoas que costumam ter um padrão de comportamento destrutivo. Por mais que certas atitudes venham a causar sofrimento, incontáveis vezes nos vemos presos em um ciclo que não conseguimos sair, outras tantas não percebemos que tal ciclo causa sofrimento.

Alguns exemplos próximos ao nosso dia a dia são: pessoas que se envolvem afetivamente com o mesmo padrão de relacionamento, os pais que reproduzem com os filhos a mesma educação rígida que tiveram e esses filhos acabam por reproduzir o mesmo comportamento quando se tornam pais, o fracasso em todas as tentativas de obter sucesso no trabalho, nas relações, etc.

Clarice é uma jovem de 26 anos. Seus pais se separaram quando ela tinha 6 anos, as brigas entre o casal eram frequentes. Clarice cresceu ouvindo a mãe dizer que todos os homens não prestavam e que um dia ou outro, eles acabavam por ir embora, abandonam suas famílias por qualquer rabo de saia. Clarice nunca teve dificuldade para encontrar rapazes que quisessem manter um relacionamento, mas estranhamente, a maioria dos homens com os quais ela se relacionava a traíam ou terminavam o relacionamento por terem encontrado outra mulher. Ela teve dois relacionamentos que pareciam ser estáveis e os namorados se dedicavam ao compromisso estabelecido com ela. Clarice, sem entender, não conseguia nutrir o relacionamento com nenhum dos dois, certa inquietação tomava conta dela que acabou por terminar com os rapazes.

A separação dos pais foi traumática para Clarice que, sem perceber, se envolvia em sucessivos relacionamentos fadados a terem o mesmo fim que sua mãe sempre previu e a advertiu.
Alguns fatos que acontecem em nossa vida podem ser traumáticos, quando adulto a criança que ainda existe em nós acaba por reviver esses traumas diversas vezes, em uma tentativa inconsciente de dominar aqueles eventos que são incontroláveis.

Jung, aponta que aquilo que nós resistimos, persiste. Então, todos os eventos que passamos e foram traumáticos, quando não falados no sentido de tentar elaborar, podem continuar a ser sintomáticos como no caso da Clarice.

Para tentar decifrar estas questões de repetição, precisamos procurar a solução na origem do conflito inconsciente, ou seja, entender as razões desses comportamentos em sua fonte. A função do terapeuta é trazer esse conflito à consciência, possibilitando que a pessoa tenha mais clareza de si e o mundo a sua volta. Desta forma, ela pode decidir em como pretende lidar com aquilo que foi feito dela. Sartre nos trouxe um bom ensinamento: o essencial não é aquilo que se fez do homem, mas sim aquilo que ele fez daquilo que fizeram dele.**Caso citado de Clarice é ilustrativo.

Psicóloga Stefania Ceccarini Pereira
CRP: 06/135976

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